Projeto Jornada em Defesa das Riquezas do Cerrado maranhense

Aprender com a prática é uma das formas de construção do conhecimento coletivo no Cerrado sul maranhense. Isso porque a Associação Camponesa (ACA), que tem sua sede em Balsas (MA), promove um precioso trabalho de assistência técnica e educação contextualizada para o desenvolvimento socioeconômico e ambiental na região, se baseando na conservação das riquezas do bioma e na autonomia do seu povo.

 

Em 2019, a ACA foi selecionada pelo Fundo para a Promoção de Paisagens Produtivas Ecossociais (PPP-ECOS) do ISPN, com recursos do Fundo Amazônia, para a realização do projeto “Jornada em Defesa das Riquezas do Cerrado Maranhense”. O projeto vem para contribuir com o fortalecimento da agricultura familiar e a valorização do Cerrado em pé, tendo a educação do campo como estratégia para o envolvimento da juventude e a produção de conhecimento.

As ações da iniciativa acontecem junto aos jovens estudantes de duas Escolas Família Agrícola (EFAs): a EFA  Rio Peixe, em Balsas, e a EFA Maria Rosa Mística, em Sucupira do Norte, município vizinho. As atividades acontecem em diálogo com a pedagogia da alternância, metodologia de ensino que busca a interação entre o conhecimento escolar (tempo escola) e o conhecimento que o estudante traz de sua realidade e suas vivências no meio rural (tempo casa).

 

Com o projeto, a ACA leva para dentro das escolas as temáticas da agroecologia e da sociobiodiversidade, buscando despertar no estudante o interesse em conhecer, utilizar e conservar as riquezas do Cerrado. Além disso, realiza assistência técnica agroecológica qualificada aos jovens quando eles estão realizando as atividades pedagógicas em suas propriedades rurais, envolvendo assim toda a família no processo educativo.

No trabalho de assistência técnica, são dadas orientações para a melhoria dos sistemas de produção, como os quintais e roçados tradicionais, assim como são trocados conhecimentos sobre as melhores formas de manejo e de aproveitamento de óleos do Cerrado, já que a região é rica em buriti, babaçu, sucupira e diversas outras espécies que colorem as paisagens do bioma e possuem potencial para serem beneficiadas.

 

Desafios diante do novo coronavírus 

Com a pandemia de Covid-19, o ano de 2020 foi desafiador para o Projeto. A crise sanitária afastou os estudantes do ambiente escolar e muitos deles, especialmente os do meio rural, não tiveram a oportunidade de seguir com as aulas remotas pela falta de acesso à internet. Mesmo assim, a equipe da ACA foi a campo, com toda a segurança exigida,  e realizou visitas de assessoria técnica agroecológica às famílias. Nelas, foram possíveis a troca de conhecimentos e a contribuição para a produção de alimentos saudáveis e para a segurança e soberania alimentar de uma região com índices de desenvolvimento humano tão fragilizados.

 

“Ao conhecer uma iniciativa tão completa como a da Associação Camponesa, reafirmamos a importância do apoio a projetos ecossociais para o enfrentamento às ameaças ambientais e sociais nas regiões brasileiras”, comenta Juliana Napolitano, assessora técnica do ISPN que acompanha o Projeto. O que pontua Napolitano reflete as ameaças que o Cerrado maranhense vem sofrendo. Segundo estudo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), o Maranhão foi o estado que mais desmatou o Cerrado em 2020, sendo responsável por 36% da área desmatada no Bioma.

Diante dos altos índices de degradação na região, a Jornada em Defesa das Riquezas do Cerrado maranhense aparece como um caminho sustentável que cultiva para viver e ver esse Bioma tão importante em pé. As iniciativas do projeto ainda possuem como nortes: passar conhecimentos sobre leis ambientais, identificar oportunidades de aproveitamento dos recursos do Cerrado de maneira sustentável, promover conhecimentos agroecológicos, incentivar e distribuir mudas e sementes entre agricultores, dentre outras ações que contribuem para a conservação ambiental e autonomia das famílias.

 

“Nós desafiamos esse modelo devastador que explora, degrada e exclui, e é aí que está nossa resistência: em nossa atuação de racionalidade sustentável do Cerrado e de inclusão sociocultural e econômica da agricultura familiar agroextrativista no Território do Cerrado Sul Maranhense. Sim, somos essa resistência”, comenta Raimunda Francisca, coordenadora do Projeto e agricultora familiar. Essa resistência se une ao cuidado e à força das famílias agricultoras locais. Elas mostram que, mesmo em uma região tão ameaçada, existe quem abrace o Cerrado para que ele permaneça em pé, no aprendizado e na luta.

O Projeto Jornada em Defesa das Riquezas do Cerrado maranhense recebe o apoio do Fundo PPP-ECOS com recursos do Fundo Amazônia. 

 

Sobre o Fundo PPP-ECOS

A promoção de Paisagens Produtivas Ecossociais (PPP-ECOS) é a principal estratégia adotada pelo ISPN na busca por um desenvolvimento com equidade social e equilíbrio ambiental. Para viabilizar esta estratégia, o Instituto gere um Fundo independente que capta e destina recursos a projetos de organizações comunitárias que atuam pela conservação ambiental por meio do uso sustentável dos recursos naturais, gerando benefícios econômicos e sociais. Hoje, a carteira de financiadores do Fundo PPP-ECOS conta com o Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF), a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), Fundo Amazônia/BNDES, Laudes Foundation, União Europeia e Ministério do Meio Ambiente, Proteção da Natureza e Segurança Nuclear da Alemanha (BMU).

 

Fonte: https://ispn.org.br/saber-e-conservar-uma-experiencia-que-abraca-o-cerrado/?fbclid=IwAR1PiztNVMe9b7OGO27HWb8_6ZnhUYwuvA7SPu_UBE9y_qNRVSKNGrnSWFk