Espeleologia
A espeleologia (do latim: spelaeum – caverna; logia – estudo) é a ciência que se dedica ao estudo das cavidades naturais subterrâneas – cavernas. Ela utiliza conhecimentos de outras áreas (topografia, geologia, geografia, biologia, ecologia, arqueologia, paleontologia entre outras) afim de entender como foi a evolução das cavernas e do meio ambiente onde estão inseridas. Desta forma, essa ciência busca conhecer e entender as interações que circundam as cavernas, como: sua forma e as condições geológicas existentes, as formas de vida que às habitaram e habitam, o potencial turístico existente, as variações nos climas do passado, o uso sustentável de recursos e a influência que os seres humanos exercem sobre elas.
As cavernas são precipuamente espaços geográficos inseridos no meio ambiente natural, que se destacam também por conterem atributos ecológicos e por serem portadores de valor de referência cultural para a sociedade brasileira.
Os sítios espeleológicos são um bom exemplo da interdisciplinariedade e da diversidade de valores e interesses presentes em um mesmo espaço geográfico. Desde 1961 as cavernas são espaços protegidos nos termos do art. 2, b, da Lei n.º 3.924/61, que enumera, como patrimônio arqueológico, as cavernas, lapas, grutas e abrigos sobre rocha onde são encontrados vestígios de natureza arqueológica. Esses espaços espeleológicos podem abrigar também bens paleontológicos (e nesse caso é aplicável também a norma que cuida dessa matéria). Enfim, mesmo as cavernas de baixa e média relevância podem oferecer aos arqueólogos e paleontólogos elementos informativos de grande importância para a compreensão da trajetória dos seres vivos sobre a terra.
As cavernas guardam registros sobre a evolução dos diversos sistemas ambientais da Terra, como o geológico, a vida e o clima. As cavernas, nossos primeiros abrigos e locais sagrados para vários povos, guardam importantes vestígios da história da humanidade, nos ajudando a compreender a evolução humana e sua distribuição espacial no planeta. Cavernas são importante campo de pesquisas arqueológicas, bioantropológicas, entre outras.
Uma mesma caverna pode armazenar camadas de informação diversas, biológicas, geológicas, bem como vestígios arqueológicos, paleontológicos e microclimáticos, sendo um ambiente riquíssimo para práticas pedagógicas em campo. Cavernas proporcionam ricas experiências em diferentes disciplinas da educação e despertam o interesse científico.
Cavernas turísticas são relevantes para recreação, contemplação da natureza, realização de atividades didático-pedagógicas e uso religioso. Muitas cavernas são utilizadas para a realização de manifestações religiosas que atraem todos os anos milhares de romeiros, como na famosa festa de Bom Jesus da Lapa na Bahia.
Cavernas turísticas recebem centenas de milhares de visitantes por ano, gerando emprego e renda, direta ou indiretamente, para diversas comunidades, em todo o país. Os aquíferos cársticos são importantes para o abastecimento de várias cidades brasileiras, como parte das regiões metropolitanas de Belo Horizonte e Curitiba.
Cavernas são ambientes especiais, onde a ausência de luz natural, condições estáveis de temperatura e umidade, baixa disponibilidade de recursos alimentares, favorecem o desenvolvimento de uma fauna sensível e especializada, de inestimável valor científico e ambiental. Muitas espécies são raras e ainda pouco conhecidas pela ciência.
Por serem ambientes estáveis, protegidos das intempéries e das variações bruscas de temperatura e umidade, as cavernas podem preservar importantes depósitos fossilíferos, inclusive contendo animais extintos, como preguiças gigantes e tigres dente-de-sabre. Vestígios paleontológicos são peças chave para compreensão da história ambiental do planeta, sendo de extrema relevância científica.
Os belos espeleotemas que ornamentam nossas cavernas, guardam registros de épocas passadas, mais secas ou chuvosas. Estudando-os, os cientistas inferiram, por exemplo, quando se iniciou a seca no sertão nordestino. Essas valiosas informações paleoclimáticas sobre a evolução climática do planeta, nos ajudam a melhorar modelamentos matemáticos de predição do clima futuro.
Se você tem alguma dúvida ou quer contribuir de alguma maneira com esta divulgação e a proteção de nossas cavernas, entre em contato com a Comissão de proteção às cavernas da Sociedade Brasileira de Espeleologia por protecao@cavernas.org.br
“Histórico da Espeleologia – Uma visão geral da história da espeleologia, desde a antiguidade, ate os dias atuais.” por Paulo Rodrigo Simões.
Paulo Rodrigo Simões é espeleólogo membro da Sociedade Excursionista e Espeleológica – SEE/UFOP (1993), tendo atuado como técnico em Arqueologia junto à Fundação Museu do Homem Americano – FUMDHAM. É licenciado em História pela Universidade Federal de Ouro Preto (2003) e mestre em Geociências pelo Departamento de Geologia e Recursos Naturais do Instituto de Geociências da UNICAMP (2007), tendo aplicado o Sensoriamento Remoto e Sistema de Informações Geográficas – SIG na caracterização do PARNA Cavernas do Peruaçu. Atuou como Analista Ambiental em processos de Licenciamento Ambiental na gestão de estudos arqueológicos. É diretor da Rolling Drone Geotecnologias e atualmente é doutorando do Programa de Pós-graduação em Ciências Geodésicas da UFPR, onde desenvolve um método de mapeamento de cavidades através da Fotogrametria.
Dando sequência a programação do evento com o tema “Histórico da Espeleologia. Apresenta uma visão geral da História da Espeleologia, desde a Antiguidade, até os dias atuais.”, o convidado irá apresentar desde as primeiras atividades espeleológica à sua contextualização com a ciência e a evolução dos estudos espeleológicos.
Em 1835, o dinamarquês Peter Wilhelm Lund mudou-se para Lagoa Santa e foi o primeiro a produzir descrições científicas detalhadas das cavernas brasileiras. Muito embora o interesse de Lund estivesse sempre voltado para trabalhos com fósseis, o cientista elaborou conceitos originais sobre espeleogênese, formação de salitre, deposição de espeleotemas e cronologia dos sedimentos em grutas. Já em 1842, Lund relata ter visitado mais de 200 cavernas e catalogado mais de 120 espécies fósseis, além de 94 espécies pertencentes à fauna atual. Sua maior descoberta foi um conjunto de ossos humanos em estratos geológicos que também continham fósseis da megafauna extinta e, com isto, derrubou a teoria do Catastrofismo, a qual o próprio Lund era adepto.
Na Constituição Federal de 88, as cavernas passam a pertencer à União. Elaborou-se um Programa Nacional de Proteção ao Patrimônio Espeleológico. Nesse mesmo ano ocorreu a realização do I Congresso de Espeleologia da América Latina e do Caribe (I CEALC), realizado em Belo Horizonte – MG. Em 1997 aconteceu a fundação do CECAV- Centro Especializado voltado ao Estudo, Proteção e Manejo de Cavernas, enquadrado na categoria de Unidade Descentralizada do IBAMA.
A relação humana com as cavernas a partir da religiosidade, cultura e misticismo até as relações de consumo presentes nos novos modelos de promoção e interação com os ambientes naturais. A partir disso, serão externados os impactos sociais, ambientais e econômicos provenientes da prática de atividades de ecoturismo e espeleoturismo, apresentando diretrizes que podem auxiliar no desenvolvimento turístico e econômico em confluência com a conservação da natureza.
Mapa das Áreas Prioritárias para a Conservação do Patrimônio Espeleológico Brasileiro – 2018 ESTADO DE GOIÀS
Disponível em:
Mapa das Áreas Prioritárias para a Conservação do Patrimônio Espeleológico Brasileiro – 2018 ESTADO DO TOCANTINS
https://www.icmbio.gov.br/cecav/images/stories/projetos-e-atividades/PAN/Mapas/TOpriori_8maio18_sirgas.pdf
Mapa das Áreas Prioritárias para a Conservação do Patrimônio Espeleológico Brasileiro – 2018 DISTRITO FEDERAL
https://www.icmbio.gov.br/cecav/images/stories/projetos-e-atividades/PAN/Mapas/DFpriori_9maio18_sirgas.pdf
A União Internacional de Espeleologia (UIS) decretou o ano de 2021 como sendo o Ano Internacional das Cavernas e do Carste, em inglês International Year of Caves and Karst, daí a sigla IYCK-2021.
OBJETIVOS
*Melhor compreensão científica e pública de como as cavernas e o carste afetam a vida de bilhões de pessoas;
*Mostrar como o manejo adequado das cavernas e do carste é importante para a saúde econômica e ambiental do planeta;
*Estruturar programas mundiais de educação em cavernas e carste para todas as pessoas, com foco nos países em desenvolvimento;
*Promover cavernas e carste para o desenvolvimento sustentável no uso da água, na agricultura, no turismo e ao patrimônio natural/cultural;
*Estabelecer parcerias para garantir que essas atividades e conquistas continuem além do Ano Internacional.
AÇÕES
*Compartilhar conhecimentos sobre cavernas e carste;
*Organizar conferências científicas nacionais, regionais ou internacionais com exposições públicas;
*Incentivar o turismo no carste, nas cavernas turísticas e nos parques cársticos;
*Promover o valor dos 93 Patrimônios da Humanidade e dos 70 Geoparques Globais da UNESCO, assim declarados em parte por suas cavernas e carste.
No coração do planalto central brasileiro, Brasília foi a cidade escolhida para receber o 36º CBE. Conforme dados do censo espeleológico apresentados durante o 35º CBE, Brasília é a terceira capital do país com maior representatividade de espeleólogos do país, sendo assim uma capital ideal para sediar o Congresso Brasileiro de Espeleologia.
Na região de Brasília, existem mais de 1.000 cavernas registradas no Cadastro Nacional de Informações Espeleológicas – CANIE, com destaque para locais como o Parque Estadual Terra Ronca – PETER, a Área de Preservação Ambiental Nascentes do Rio Vermelho, ambas no nordeste goiano e que abrigam alguns dos maiores sistemas cavernícola do país, além dos municípios de Unaí, Vazante e Paracatu em Minas Gerais.
A data limite para a submissão de trabalhos será 19/12/2021. Pelo menos um dos autores deverá se inscrever no congresso até a data limite para a submissão de trabalhos. A submissão deverá ser realizada pelo autor inscrito no congresso. Nesta edição do CBE, a submissão e gestão dos trabalhos científicos será realizada por meio de uma plataforma online que será disponibilizada em breve na página oficial do Congresso. Dúvidas poderão ser encaminhadas diretamente para o e-mail da comissão científica: 36cbe_comissaocientifica@cavernas.org.br.
O resultado dos trabalhos aprovados será divulgado até 15/03/2022. A forma de apresentação, data e local serão informados aos autores até a data limite de 01/04/2022.
Ambientes delicados como as cavernas, os solos e o Carste de forma geral, ainda são um mistério para grande parte da sociedade, apesar de já serem bastante estudados em pesquisas e trabalhos acadêmicos. Verifica-se assim, a necessidade de maior divulgação dos conhecimentos acadêmicos para as pessoas que vivem direta ou indiretamente do solo e que habitem em regiões que existem cavernas.
O Projeto Solo na Escola IESA/UFG busca divulgar a importância do solo e de sua conservação na Região Centro-Oeste do País, que inclui muitas regiões cársticas, algumas com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) no estado de Goiás. Proteger os solos e
as cavernas são imprescindíveis para alcançar a sustentabilidade e melhorar a qualidade ambiental e a segurança alimentar das pessoas.
Acesse a página do face do Pequi Espeleogrupo:
https://www.facebook.com/pequiespeleogrupo
Algumas fotos do curso ministrado nas caverna Samambaia, Boqueirão e do Bigode:
https://iesa.ufg.br/n/108993-ii-curso-de-espeleologia]
Quer saber mais?
Converse com a Profa. Dra. Renata Santos Momoli
rsmomoli@ufg.br
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) publicou a portaria nº 646, de 9 de agosto de 2022. O documento aprova o Plano de Ação Nacional para a Conservação do Patrimônio Espeleológico Brasileiro (PAN Cavernas do Brasil), que contempla 169 táxons nacionalmente ameaçados de extinção, estabelecendo seu objetivo geral, objetivos específicos, prazo de execução, formas de implementação, supervisão e revisão.
O Plano de Ação estabelece estratégias prioritárias para conservação do patrimônio espeleológico e para 169 espécies ameaçadas de extinção constantes da Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção, sendo 1 classificada na categoria CR(PEX) (Criticamente em Perigo – Provavelmente Extinta), 75 classificadas na categoria CR (Criticamente em Perigo), 50 na categoria EN (Em Perigo) e 43 na categoria VU (Vulnerável). A conservação do patrimônio espeleológico envolve o conjunto de elementos bióticos e abióticos, socioeconômicos e histórico-culturais, subterrâneos ou superficiais, representados pelas cavidades naturais subterrâneas ou a essas associadas.
O PAN Cavernas do Brasil possui quatro objetivos específicos e 44 ações, que visam prevenir, reduzir e mitigar os impactos e danos antrópicos sobre o patrimônio espeleológico brasileiro, espécies e ambientes associados, em cinco anos. O servidor do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (ICMBio/Cecav), Maurício de Andrade, será responsável pela coordenação do PAN, com supervisão da Diretoria de Pesquisa, Avaliação e Monitoramento da Biodiversidade (Dibio).
O presidente do ICMBio também instituiu o Grupo de Assessoramento Técnico (GAT) do PAN Cavernas do Brasil através da portaria nº 645 de 9 de agosto de 2022. O GAT tem a atribuição de acompanhar a implementação e realizar monitorias e avaliações do PAN.
Os Planos de Ação Nacionais (PANs) são instrumentos de gestão, construídos de forma participativa, com o objetivo de ordenar e priorizar medidas para a conservação da biodiversidade e seus ambientes naturais, com um prazo definido.