Morcegos do Cerrado
É muito comum ouvir frases como “morcego parece um rato que voa”, “é um rato com asas”, em outros continentes os morcegos podem ser conhecidos como “raposas voadoras” devido ao seu focinho longo que faz com que eles se assemelhem com uma raposa na estrutura do rosto e focinho.
Acontece que os morcegos não se assemelham biologicamente de ratos, muito menos de raposas, sendo a única semelhança entre esses três o fato de serem mamíferos assim como os seres humanos (e eu pelo menos não conheço ninguém parecido com um morcego). Roedores e morcegos tiveram origens evolutivas totalmente diferentes e não são parentes próximos. Além disso, nem todos os morcegos possuem a pelagem de cor marrom ou acinzentada. Existem espécies de diversas cores, como laranja, cinza, vermelha e até mesmo espécies de morcegos totalmente brancas (Figura 5)
Figura 5: retirada da cartilha científica Desmitificando os Morcegos. Exemplos de diferenças de forma e coloração entre as espécies de morcego: (A) Vampyriscus bidens, (B) Lasiurus ega, (C) Diclidurus scutatus, (D) Noctilio leporinus, (E) Scleronycteris ega, (F) Chrotopterus auritus, (G) Nyctinomops laticaudatus e (H) Mesophylla macconnellii
Referências:
LAURINDO, R.S.; NOVAES, R.L.M. Desmitificando os morcegos. Monte Belo: ISMECN, 2015.
Existem cerca de 1200 espécies de morcegos conhecidas pela ciência espalhadas pelo globo terrestre nas mais diversas regiões. Desse total apenas TRÊS ESPÉCIES consomem sangue de outros animais, e apenas uma consome sangue de mamíferos (e uma dica, esse mamífero não costuma ser o humano).
As principais espécies de morcego hematófagos são o morcego-vampiro-de-pernas-peludas (Diphylla ecaudata) que consume apenas o sangue de aves de médio e grande porte. O morcego-vampiro-de-asas-brancas (Diaemus youngi) é uma espécie rara, que se alimenta preferencialmente do sangue de aves, podendo consumir também sangue de mamíferos. E por fim o morcego-vampiro-comum (Desmodus rotundus) é a espécie mais abundante, e ocorre praticamente em todo o Brasil. Estes morcegos se alimentam de sangue de mamíferos e aves e é responsável pelos eventuais ataques a humanos.
Mas calma, isso não é motivo para temer os morcegos. Primeiro que ataques a humanos são raros e só ocorrem quando outros mamíferos preferenciais não são encontrados (como por exemplo vacas, porcos e cavalos). Além disso, os morcegos não atacam ferozmente como muitos imaginam, na verdade eles se aproximam das presas de forma sutil, após a aproximação eles fazem um pequeno ferimento com os dentes incisivos. A saliva dessas espécies possui uma enzima chamada de draculina que inibe a coagulação do sangue para que o morcego possa se alimentar lambendo o sangue.
Parando para pensar é até bonitinho a forma como eles se alimentam, e fica melhor pois atualmente, as espécies hematófagas tem ganhando destaque na indústria farmacêutica, sendo estudado a possibilidade de produzir medicamentos para tratar a trombose e efeitos negativos de pessoas que sofreram acidentes vasculares (AVC).
Referências:
LAURINDO, R.S.; NOVAES, R.L.M. Desmitificando os morcegos. Monte Belo: ISMECN, 2015.
Se os morcegos não são os devoradores de sangue que a mídia pintou, doque eles se alimentam? Bom, os morcegos estão entre os animais que consome uma variedade de alimentos desde frutas e folhas, até pólen, insetos e pequenos mamíferos como ratos. A alimentação dos morcegos além de nutri-los também é um serviço biológico.
Não existe floresta sem morcego! Ao se alimentar de frutos os morcegos realizam a função de dispersar as sementes, ao se alimentarem de pólen, eles realizam a polinização (e por voarem por longas distâncias alcançam grandes áreas), quando se alimentam de insetos e pequenos mamíferos realizam o controle de pragas tanto nas florestas quanto em áreas rurais e urbanas.
Referências:
LAURINDO, R.S.; NOVAES, R.L.M. Desmitificando os morcegos. Monte Belo: ISMECN, 2015.
RAIVA:
Os morcegos podem transmitir algumas doenças, assim como diversos outros animais silvestres. A doença mais comum associada aos morcegos é a Raiva, uma doença letal causada por um vírus. Essa doença que ainda não possui cura, ataca o sistema nervoso causando a morte do seu portador.
Mas isso não é motivo de pânico. A Raiva só é transmita quando há contato da pessoa com a saliva ou sangue do morcego contaminado. Ou seja, se você não mexer com um morcego, com certeza não será contaminado por ele. É importante ressaltar também que nem todos os indivíduos de morcegos transmitem Raiva, apenas aqueles que estejam infectados com o vírus (o que equivale a apenas 1% de todos os morcegos do Brasil).
HISTOPLASMOSE:
Essa doença é causada por um fungo chamado de Histoplasma capsulatum, é um tipo de micose que afeta os órgãos internos (principalmente o pulmão). Esse fungo se desenvolve nas fezes dos morcegos acumuladas em locais pouco ventilados e úmidos, e a contaminação ocorre com a inalação dos esporos desse fungo que ocorre geralmente quando as pessoas entram em locais fechados como sótãos, cavernas e porões que sirvam de abrigo para morcegos. A doença possui tratamento, mas pode ser letal. Porém ainda assim não é motivo para pânico, ao adentrar locais (com real necessidade de entrar) com possível contaminação lembre-se de usar equipamento de segurança como mascaras e se possível chamar um especialista para remover as fezes.
COVID-19:
Quando a pandemia do novo COVID-19 surgiu, começou-se uma procura pelos culpados pela transmissão do vírus. E assim como na época da febre amarela muitos macacos foram mortos sendo responsabilizados erroneamente pela transmissão do vírus, em 2020 foi a vez dos morcegos.
Acontece que o marco zero para a pandemia do SARS-coV-2 foi a comercialização de animais vivos para consumo humano. De fato, já se sabe há décadas da ligação entre eles e vários vírus emergentes, como o da raiva e de outros coronavírus. Mas vale ressaltar que morcegos e humanos são mamíferos que possuem receptores análogos e que permitem que o coronavírus consiga encaixar na célula e iniciar o processo de replicação.
Sendo assim temos mais um caso onde a doença é transmitida após o contato direto com o portador do vírus, mas o que ocorreu durante a pandemia foi a adaptação do vírus, tornando-o altamente transmissível entre os seres humanos, e o pobrezinho do morcego não tem nada a ver com isso.
Todas essas doenças só são transmitidas aos humanos se a pessoa fizer contato direto com um morcego ou entrar em locais fechados que sirvam de abrigo para eles. Portanto, o ideal é que se você vir um morcego caído no chão ou pousado de forma imóvel durante o dia, não tente pegá-lo, muito menos agredi-lo. Apenas chame o Centro de Controle de Zoonoses de sua cidade (fácil de encontrar o número no google), e eles saberão o que fazer. Morcegos são animais muito importantes para o ecossistema e não devem ser perturbados, perseguidos ou mortos.
Assim como qualquer animal silvestre brasileiro, eles são protegidos por lei e merecem nossa admiração e nosso respeito.
Referências:
LAURINDO, R.S.; NOVAES, R.L.M. Desmitificando os morcegos. Monte Belo: ISMECN, 2015.
Primeiramente, calma! O pobre morceguinho está com muito mais medo de você do que você dele, acredite. Imagine estar voando tranquilamente, comendo frutinhas e cheirando flores e sem intenção você entra em uma moradia que parece um lugar confortável para ficar, mas é lar de um dos animais mais perigosos do mundo, o ser humano. Parece assustador, não é?
Então não se desespere, e vamos as três possíveis formas de lidar com um morcego na sua residência:
Deixar o morcego sair sozinho: Abra as janelas, apague as luzes do cômodo em que o morcego está e feche a porta. Pode demorar um pouco, mas o morcego encontrará seu caminho para fora de casa.
Captura e soltura: Para esse método você precisara de um balde ou bacia, e de algo que possa usar para tampar e estimular o morcego para dentro do recipiente escolhido. Essa técnica deve ser usada apenas em casos de morcegos que caem no chão e não se movimentam mais, se tratando de morcegos que não alçam voo do chão. Delicadamente, sem fazer movimentos bruscos e com muita paciência aproxime o balde e uma tampa/placa de madeira/ vassoura por lados opostos, cercando o morcego para que ele entre dentro do balde.
Após a captura é só o libertar do lado de fora perto de uma árvore para que ele possa escalar e se jogar lá de cima. Jamais tente agarrar o morcego diretamente com um pano ou luvas pois a mordida dele pode atravessar o tecido e ferir você.
Acionar uma autoridade: Entrar em contato com autoridades responsáveis como o corpo de bombeiros, polícia ambiental, zoonoses ou qualquer outro centro confiável de recebimento de animais silvestres pode ser acionado nesses casos em que o morcego não sair por conta própria e a retirada segura feita pelos moradores não for possível.
Contatos:
-Corpo de Bombeiros: 193
-Polícia Ambiental: repassado pelo 181
-Zoonoses dependem de cada região.
Referências:
LAURINDO, R.S.; NOVAES, R.L.M. Desmitificando os morcegos. Monte Belo: ISMECN, 2015.