Solar dos Sertões - Museu Vivo dos Povos Tradicionais do Norte de Minas
ATENÇÃO: VAMOS AJUDAR A CRIAR UM MUSEU DOS POVOS TRADICIONAIS DE MINAS GERAIS?
O Solar dos Sertões: Museu Vivo dos Povos Tradicionais de Minas Gerais nasce do desejo de reconhecer e preservar o legado cultural de sete povos mineiros: geraizeiros, vazanteiros, veredeiros, caatingueiros, quilombolas, indígenas e apanhadores de flores sempre-vivas. Acreditamos que o gesto de olhar para as histórias dessas mulheres e homens é restituir a memória da resistência percorrida por essas comunidades em prol da proteção do cerrado e outros biomas que compõem Minas Gerais.
A campanha de financiamento coletivo para a construção do “Solar do Sertão: Museu Vivo dos Povos Tradicionais de Minas Gerais” é uma ação contemplada pelo edital Matchfunding BNDES + Patrimônio Cultural 2020 na plataforma Benfeitoria.
Para doar, acesse o link: https://benfeitoria.com/museudospovosdemg
Para financiar a primeira etapa do projeto, precisamos do seu apoio para arrecadar a meta mínima R$ 60.000,00. A cada R$ 1,00 arrecadado o BNDES triplica a colaboração. Se não conseguirmos atingir a meta, o valor arrecadado é devolvido aos doadores. Por isso, a sua contribuição é muito importante para nos ajudar a alcançar os R$ 180.000,00, é o valor mínimo para executar o projeto. Dentro de um valor estimado entre R$ 20,00 e R$ 5.000,00, você pode colaborar conosco e receber como brinde uma lembrança dos povos tradicionais, de acordo com cada doação. Cada lembrança é também uma expressão dos saberes desses povos, carrega junto uma história de alguém ou de uma comunidade.
As Apanhadoras de Flores Sempre Vivas habitam a Serra do Espinhaço, em Minas Gerais, na região de Diamantina. Geralmente as famílias vivem em comunidades rurais nas terras baixas, onde praticam agricultura tradicional. Já os campos de coleta estão nas terras altas, conhecidas como terras de uso comum das famílias. São, portanto, terras ancestrais dessas famílias, que usam e conservam a biodiversidade, as águas e os solos por meio de práticas tradicionais. Maria de Fátima Alves, apanhadora de flores de Buenópolis (MG), vê nesse ofício uma riqueza capaz de garantir o sustento da família, “Ser apanhadora de flor é garantir
um ar puro para respirar, é ser guardião da biodiversidade”, ela afirma. A importância desse legado foi reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) com o selo de Sistema de Patrimônio Agrícola de Importância Global (GIAHS), dedicado a promover o reconhecimento de comunidades tradicionais que mantém
sua diversidade socioambiental, mesmo diante de cenários de conflitos.
Nas margens do Velho Chico, Cicero Ferreira de Lima, 64 anos, aprendeu desde a infância a manejar a terra em seu devido tempo com o furão, uma ferramenta pontiaguda feita de lasca de aroeira. Como vazanteiro , ele se guia pelo tempo das secas e das águas para cultivar frutos e legumes nos lameiros, áreas de vazantes dos rios, seja nas margens ou nas ilhas, com grande potencial produtivo para quem tem o conhecimento de como manejar. A tradição vazanteira que Cícero aprendeu com seu pai, além de promover a segurança alimentar, possibilita a vitalidade dos rios e suas margens.
Essa sabedoria que vê no meio ambiente uma forma de coexistência está presente nas regiões dos planaltos e serras do Espinhaço norte mineiro, no cotidiano do povo geraizeiro, representado em diversas obras literárias do escritor Guimarães Rosa. “O território geraizeiro é um lugar onde nós podemos colher todos os nossos frutos do cerrado: o pequi, o fruto de
leite, a mangaba, o rufão”, afirma a geraizeira Marlene Ribeiro. Ali, de acordo com ela, durante muito tempo não havia cercas, o gado era solto no pasto de uso comum. Embora essa não seja mais a realidade das comunidades diante de diversos impactos socioambientais, os geraizeiros seguem afirmando sua identidade reconhecendo as potências do seu modo de viver.
O povo quilombola mantém com o seu território uma relação ancestral de resistência que ecoa através dos rituais que ali ocorrem com cantos, batuques e também através da agricultura tradicional habilmente adaptada às condições de seus territórios com o uso das sementes crioulas. A quilombola Faustina Soares, 57 anos, liderança da Fazenda Picada, localizada no Quilombo do Gurutuba, aprendeu desde criança a dança dos batuques nas Folias de Santos Reis. Essa tradição foi repassada pela quilombola a suas filhas, pois ela acredita que esse gesto de alegria mobilizado em todo o território encontra na dança um caminho que une a comunidade e reafirma a importância da cultura negra.
Em diferentes localidades do estado mineiro, 14 nações indígenas vivem através de uma cultura tradicional que coexiste com a natureza, neste projeto participam os Tuxás e os Xakriabás. Domingas Xacriabá, 27 anos, relembra a importância do ritual do toré na Aldeia Caatinguinha, localizada no território Xacriabá em São João das Missões, no norte de Minas.
“De seis em seis meses, para participar da festa fazemos a saia da seda do buriti com as pessoas mais velha e a juventude”, afirma Domingas. Ela pontua a importância do ritual como uma forma de unir as mulheres da comunidade e de tornar viva a tradição indígena de geração a geração.
“Quando você está chegando perto da vereda aí você enxerga de longe os buritis, naquele lugar o mais importante é que existe água e que ali vivem comunidades, os veredeiros.” Essa fala do veredeiro Santino Lopes, da comunidade Água Doce, retoma um princípio que guia a
comunidade: preservar as veredas para que delas possa se ter uma forma de existência para a comunidade que ali vive. Através da biodiversidade desse território, esse povo ao longo de gerações mantém uma cultura tradicional que bebe de referência afro indígenas e nos revela
características singulares que abarca os saberes em torno das veredas e do cerrado, do extrativismo dos frutos e plantas medicinais, da agricultura tradicional, de folias e dança. Entre elas, a dança de São Gonçalo é um saber praticado apenas em comunidades de veredeiros. São doze passos que precisam ser dominados com maestria para realizar o gesto da dança.
“Em um período de poucas chuvas, as pessoas aqui tinham a batata do umbuzeiro para fazer farinhas”, relembra seu Geraldo, que vê nesse exemplo a realidade de como a caatinga oferece inúmeras possibilidades de usufruir da sua riqueza agroecológica. Desde os sete anos o caatingueiro Geraldo Gomes, 57 anos, aprendeu com o avô a importância de cultivar sementes crioulas. Essa tradição lhe possibilitou construir maior autonomia alimentar e a entender como esse bioma dispõe de um patrimônio da biodiversidade. Hoje, no banco de sementes comunitário, ele abriga um dos maiores acervos de sementes crioulas da região que
contribuem diretamente para que famílias catingueiras possam ter uma alimentação rica e adaptadas para as variações climáticas durante o ano. Para se ter uma ideia do potencial, o seu banco abriga só de feijão mais de 70 variedades.
Histórias dessa natureza são um legado geracional para a humanidade. Para salvaguardar e revelar essas histórias para outras pessoas, acreditamos na importância da construção de um museu dedicado a mostrar a pluralidade que envolve os modos de vida dos povos
tradicionais. Além dessa missão que norteia o Solar dos Sertões, nos dedicamos a construí-lo em formato físico e através de uma plataforma virtual a partir de conteúdos criados e curados pelos povos, com o objetivo de tornar os saberes tradicionais acessíveis ao público.
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