Répteis do Cerrado
Os répteis são um grupo extremamente diverso e presente em todos os locais do planeta, exceto os polos. Os répteis são um grupo atualmente composto pelos lagartos, anfisbenas, serpentes, tuataras, quelônios, crocodilianos e aves. Sim! As aves são parte dos répteis, de um grupo conhecido como Archosauria, mas neste tópico nos restringiremos aos répteis não-avianos. Os crocodilianos são compostos pelos crocodilos, jacarés e gaviais, um grupo não muito diverso. Os répteis Squamata são compostos pelos lagartos, serpentes e anfisbênas, fazendo dele o grupo mais diverso tanto em número de espécies quanto de formas e habitats. Os quelônios são um grupo formado pelos jabutis (terrestres), os cágados (semi-aquáticos, mais relacionados com água doce) e as tartarugas (aquáticas, amis relacionadas com ambientes marinhos). No Brasil possuímos uma alta diversidade de répteis, com todos os grupos representados menos a tuatara, que ocorre apenas na Nova Zelândia, apesar de que existem espécies fósseis desse grupo no nosso país. Dos grupos que ocorrem no nosso país, o menos diverso se trata dos crocodilianos, com seis espécies. O grupo mais diverso se trata de Squamata (serpentes, lagartos e anfisbenas), com mais de 900 espécies registradas para o território brasileiro. Os lagartos são animais que variam muito e tamanhos formas e cores. Vários convivem bem em ambientes urbanos, os famosos calangos (Tropidurus spp.). As anfisbenas são um grupo curioso, popularmente chamadas de cobra-de-duas-cabeças, apesar de não se tratar de uma cobra. São animais sem pernas e fossoriais (que vive enterrado) a maior parte do tempo, e não oferece risco ao ser humano. As serpentes são um grupo sem pernas e predador, historicamente mistificados pelos humanos em diversas culturas. Apresentam quatro tipos de dentição (áglifa, sem dentes sulcados inoculadores de peçonha; opistóglifa, com dentes inoculadores de peçonha no fundo da boca; proteróglifa, com dentes inoculadores de peçonha na parte da frente da boca; solenóglifa, com dentes inoculadores de peçonha móveis e na frente da boca), sendo que apenas dois demonstram importância médica (proteróglifo e solenóglifo).
Referências:
Colli, G.R., Bastos, R.P., Araújo, A.F.B. (2002). The character and dynamics of the Cerrado herpetofauna, p. 223-241. In: Oliveira, P.S. & Marquis, R.J. (Eds.). The Cerrados of Brazil: ecology and natural History of a neotropical savanna. Columbia University Press, New York.
Nogueira, C., Ribeiro, S., Costa, G.C., Colli, G.R. (2011). Vicariance and endemism in a neotropical savanna hotspot: distribution patterns of Cerrado squamate reptiles. Journal of Biogeography 38: 1907-1922
No Cerrado, o nível de endemismo não é tão grande quanto o de anfíbios, mas funciona de maneira semelhante. Algumas espécies de outros biomas, como Mata Atlântica, Floresta Amazônica e Caatinga também são encontradas no Cerrado, mas em áreas de transição onde esses animais se adaptam a certas fitofisionomias. Os endemismos no Cerrado estão muitos relacionados a eventos de vicariância (isolamento). Várias das espécies endêmicas possuem uma alta associação com uma fitofisionomia específica, e isso muitas vezes vulnerabiliza os status de conservação das mesmas. A perda de fitofisionomias da diagonal de formações abertas, que não são efetivamente protegidas (ao contrário das florestais), põe em risco a maior parte das espécies endêmicas do Cerrado, que se encontram nessas formações. Um exemplo é a cotiarinha (Bothrops itapetiningae) que vem desaparecendo devido à rápida degradação das fitofisionomias campestres. Outras espécies ameaçadas de extinção possuem um papel essencial no ecossistema, como o cágado-do-Cerrado (Mesoclemmys vanderhaegei), uma espécie topo de cadeia nos ambientes lóticos no Cerrado. Um fator limitante tanto para a distribuição quanto para os status de conservação dos répteis pode ser a altitude. Várias espécies possuem, além de uma alta relação com uma certa fitofisionomia, distribuição restrita aos topos de morros e chapadas. Esse padrão pode ser observado em várias partes do Cerrado, principalmente na Serra do Espinhaço, onde várias espécies de lagartos são endêmicas aos topos de morros.
Referências:
Colli, G.R., Bastos, R.P., Araújo, A.F.B. (2002). The character and dynamics of the Cerrado herpetofauna, p. 223-241. In: Oliveira, P.S. & Marquis, R.J. (Eds.). The Cerrados of Brazil: ecology and natural History of a neotropical savanna. Columbia University Press, New York.
Nogueira, C., Ribeiro, S., Costa, G.C., Colli, G.R. (2011). Vicariance and endemism in a neotropical savanna hotspot: distribution patterns of Cerrado squamate reptiles. Journal of Biogeography 38: 1907-1922