Paleobotânica

A paleobotânica é uma vertente muito importante da paleontologia que, como tal, articula saberes de outras áreas do conhecimento, tais como a biologia e a geologia, para localizar, analisar e interpretar registros de organismos vegetais em rochas sedimentares formadas há milhares ou milhões de anos. Para compreender, por exemplo, as dinâmicas ambientais que contribuíram para tamanha diversidade da flora atual, ou mesmo as novidades evolutivas associadas à saída do ambiente marinho e à conquista do ambiente terrestre, é preciso olhar para o passado. As rochas sedimentares são como fotografias desse passado e guardam com elas as memórias daquele tempo. Os paleontólogos (nesse caso, os especializados em paleobotânica) são os profissionais treinados para olhar para essas rochas e decifrar seus registros, quando esses se referem a organismos do reino vegetal. Os geólogos podem ser chamados de historiadores do planeta Terra, e não é diferente dos paleobotânicos, que são como historiadores das plantas e que buscam organizar a complexa pintura da história do reino vegetal (DE SOUZA, 2015)

Paleobotânica do Cerrado

O maior exemplo da aplicação da paleobotânica, é na paleoecologia. Da mesma maneira que a partir dos registros fósseis vegetais é possível reconstruir um ambiente, é também possível reconstruir o clima do planeta no passado, bem como reconhecer suas mudanças ao longo do tempo. As plantas são excelentes indicadores das condições climáticas às quais foram submetidas em vida. Isso porque além de serem sensíveis às modificações climáticas em escala continental, algumas estruturas morfo-anatômicas específicas evidenciam mecanismos de sobrevivência em diferentes condições de umidade, incidência solar, temperatura, entre outros. 

Um exemplo da aplicação das plantas na paleoecologia do Cerrado é a palmeira Mauritia (buriti). De acordo com Salgado-Labouriau (2005) a árvore “está ausente no registro palinológico da região dos cerrados, durante o último máximo glacial, apoiando a ideia de que o clima era mais frio que o presente. Atualmente, o buriti não ocorre nas regiões de cerrados mais ao sul, onde a estação seca é mais fria, somente nas regiões a oeste e norte do Brasil Central (18º S), onde há predominância de climas quentes.

A paleobotânica tem relação direta com o paleoclima. As análises palinológicas de Serra Negra (de Oliveira 1992) e Salitre (Ledru et al. 1996), detectaram a presença de pólen de Araucária junto com o pólen de árvores de mata no final do Pleistoceno, atualmente estas árvores são encontradas na forma de florestas fechadas na região Sul do Brasil. Isto reforça o fato de que a temperatura dos cerrados nessa época estava 3º a 4º C mais baixa que a atual (Ledru et al. 1996).

A partir de 6.500 anos AP os dados palinológicos sugerem que a formação vegetal da área assumiu o aspecto moderno, e o clima tornou-se similar ao atual, tropical semi-úmido, com duas estações bem definidas, uma quente/úmida, e outra fria/seca (SALGADO-LABOURIAU et al. 1997, BARBOSA 2002). Registros de outras regiões do estado de Goiás e Brasília (LEDRU 2002) apontam a similaridade destas características paleoambientais para intervalos de tempo e condições climáticas semelhantes (PAULO & BERTINI, 2015)

A pioneira da palinologia e primeira contratada da Petrobras

A ciência, de forma geral, é pouco prestigiada no país e o cientista é muitas vezes visto como uma figura distante e inacessível, restrita ao universo do laboratório e de um saber técnico específico. Valorizar a produção científica nacional, nesse contexto, se mostra essencial.
Marília Regali é a nona personagem da série ‘#CientistasDoBrasil que você precisa conhecer’. Uma das primeiras geólogas formadas no país, ela passou a vida investigando a formação do solo de terras e mares brasileiros.

 

Link para matéria: https://www.nexojornal.com.br/especial/2020/06/05/Cientistas-do-Brasil-que-voc%C3%AA-precisa-conhecer?posicao=7

 Referências bibliográficas:

  • DE SOUZA,  Juliane Marques. Paleobotânica: o que os fósseis vegetais revelam? Cienc. Cult.,  São Paulo, v.67, n.4, p.27-29, Dec. 2015. Disponível em: <cienciaecultura.bvs.br/scielo>

  • PESSOA, Luana Koscky Gangana. Paleo-vegetação e paleo-clima do final do Pleistoceno no Cerrado do norte de Minas Gerais, Brasil. 81 f. Monografia. (Graduação em Engenharia Geológica) – Escola de Minas, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2017. Disponível em: <monografias.ufop.br/Paleovegetacao e paleoclima no norte de Minas Gerais>

  • PAULO, Pedro Oliveira; BERTINI, Reinaldo José. Mamíferos fósseis do limite Pleistoceno/holoceno do estado de Goiás. Revista do Instituto Geológico, São Paulo, v. 36, n. 2, p. 61-75, jan. 2015. Instituto Geológico. Disponível em: <ppegeo.igc.usp.br/index.php/rig/article/view/10022>.