Povos de terreiro
Os povos de terreiro são povos tradicionais cuja ancestralidade, práticas, religiosidades, idiomas e modos de vida estão associados à diáspora africana em todo o Brasil. Essas comunidades se identificam sob diversas denominações, dentre elas podemos citar os povos de origem Bantu, Yorubá, Fon, Ashanti, Egbá entre outros. Em cada região do país se organizam a partir de valores civilizatórios e cosmovisões de matriz africana, matriz afro-brasileira e matriz afro-ameríndia, reconhecidas pelo seu patrimônio cultural, pelo acolhimento e pelos serviços comunitários. Os povos e comunidades tradicionais de terreiro são definidos como grupos culturalmente diferenciados que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam território e recursos naturais como condição de sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica. Utilizando conhecimentos, inovações e técnicas geradas e transmitidas por suas tradições. Os territórios tradicionais ou terreiros se constituem dentro de uma lógica de pertencimento dessas comunidades a uma sociabilidade específica. As práticas tradicionais que constituem esses espaços, não podem ser compreendidas enquanto uma unidade homogênea, mas como pertencente a uma diversidade integradora, não só a partir dos grupos linguísticos, mas também a partir de macro padrões culturais, sociais, rituais, estéticos, plásticos, alimentares e performáticos. Os terreiros são espaços de acolhimento sociocultural e de solidariedade, mas também de relações comunais e espaços de universo cultural.
Fonte:
POVOS DE TERREIRO CARTILHA DE ACESSO A DIREITOS E GARANTIAS ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS
Disponível em:
chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.semipi.pr.gov.br/sites/default/arquivos_restritos/files/documento/2024-03/cartilha.pdf
“Povo de terreiro é uma das categorias de identificação utilizadas por pessoas adeptas de religiões afro-brasileiras que cultuam orixás, voduns, nksis (diferentes nomes para as divindades, a depender da etnia), entre outras entidades originalmente africanas. São comumente chamadas, entre outras denominações, de povos de axé ou povos de santo. Convém destacar a pluralidade de religiões afro-brasileiras – umbanda, candomblé, omolokô, quimbanda, babaçue, batuque, xambá – e de denominações para seus adeptos, a fim de elucidar que reduzir toda essa complexidade a uma identidade comum é praticar um reducionismo perigoso, devido à variedade de práticas, crenças e identificações.
São povos ligados a comunidades religiosas afro-brasileiras através de vínculos de parentesco e rituais iniciáticos. A ancestralidade participa de toda organização dos povos de terreiro, bem como das relações com as entidades espirituais e com toda a religiosidade. Organizam-se fisicamente em espaços comumente denominados de terreiros. Os terreiros, presentes em todo o Brasil, são locais sagrados de culto e de relações sociorreligiosas. No entanto, a territorialidade dos povos de terreiro se expande para além do espaço físico do terreiro, abrangendo locais externos na cidade e no meio rural, como mercados, praças, esquinas, cemitérios, e locais de natureza, como rios, matas, praias, cachoeiras e pedreiras, onde comumente são adquiridos materiais para uso religioso e realizados rituais ou oferendas.
Possuem a compreensão de que não há vida sem natureza, relacionando-se com esta de forma íntima e sustentável. O meio natural é necessário em todas as práticas e ações das religiosidades afro-brasileiras, seja por meio das folhas e águas para os seus rituais, seja na interação com os guias e entidades. São considerados povos tradicionais por possuírem aspectos étnicos em suas religiosidades e formas organizativas, como línguas próprias, relações de parentesco conformando as famílias de santo, entre outros”.
“Há casos que, considerada a extensão do terreno em que a casa foi erguida, identifica-se o plantio de árvores de pequeno porte. Algumas delas, fazem uso de jardins para o cultivo de ervas a serem empregadas nos rituais e dão manutenção às plantas sagradas que representam as entidades. As folhas são utilizadas em banhos e no momento da incorporação de algumas entidades, como os pretos-velhos, que utilizam galhos de alecrim, além das folhas de tabaco. As ervas também são utilizadas para benzimentos e banhos rituais, além de utilizadas nos altares e congás como itens de ornamentação e aromatizantes do salão principal. Nas áreas rurais, as plantas nativas são preservadas e igualmente empregadas no culto. Nas casas dessas localidades também são edificados jardins para o cultivo de folhas e ervas a serem aproveitadas no culto às entidades e aos orixás. Essas entidades, a exemplo do que ocorre no candomblé, relacionam-se a folhas e ervas específicas, as quais são adotadas pelos adeptos para a efetivação dos trabalhos espirituais e preparo dos alimentos de caráter sagrado. um exemplo desse cultivo de plantas sagradas pode ser visualizado na Ordem Iniciática do Cruzeiro Divino, casa de culto localizada na área rural de Planaltina-GO, sob a direção de Mestre Aramaty. Aproveitando-se do rico bioma do Cerrado, nessa casa religiosa há uma preocupação com a preservação das plantas nativas: todas as folhas do cerrado utilizadas nos rituais estão presentes no terreno. A casa conta ainda com uma horta, onde são cultivadas as ervas específicas das quarenta e nove entidades que incorporam no templo.
Além da culinária sagrada das religiões afro–brasileira, com todos os traços gastronômicos que lhes são peculiares, outros bens culturais reclamam medidas protetivas: o conjunto de cantos sagrados que são entoados nas casas de culto, o saber especializado do babalossaim no que tange o conhecimento das ervas sagradas, sobretudo daquelas que fazem parte do bioma cerrado, característico do sítio inventariado, além dos diferentes tipos de toque que são feitos a partir dos diversos instrumentos sagrados, aí inclusos o batá e o atabaque, são alguns dos bens discriminados pelas lideranças religiosas como sendo merecedores da proteção patrimonial”.
Fonte: Terreiros do Distrito Federal e Entorno : Inventário Nacional de Referências Culturais / Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Superintendência do Iphan no Distrito Federal ; coordenação de Giorge Bessoni, Rodrigo Ramassote e Marcelo Reis ; textos de Marcelo Reis … [et al.]. – Brasília, DF : Iphan-DF, 2012. Disponível em:
chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/inventario_entorno.pdf