Geoarqueologia
Geoarqueologia é uma disciplina que utiliza os conhecimentos de geologia, e se apropria dos princípios da pedologia, sedimentologia, geomorfologia, geocronologia, geofísica e estratigrafia para compreender e identificar as circunstâncias que levaram a formação do sítio, sua preservação e consequentemente sua história.
A interação entre o meio físico e a ocupação humana antiga pode ser estudada a partir do momento em que a arqueologia busca novas ferramentas para tentar compreender essa relação do homem com o ambiente. Muitas das atividades desenvolvidas por esses grupos pré-históricos ficam registradas no solo, a partir disso, é que a pedologia entra como uma ferramenta importante de estudo.
No Brasil tem destaque as Terras pretas de índio ou terras pretas arqueológicas, localizados na região norte do país e que já foram estudados por diversos pesquisadores (Woods e McCann, 1999; Lima et. al., 2002; Glaser e Birk, 2012; Macedo et al., 2017; Santos et al., 2018). Nas regiões litorâneas também podemos citar os sambaquis, solos esses que podem datar de 8.000 até 2.000 AP (Prous, 1992).
Outros casos são solos encontrados em abrigos sobre rochas e cavernas, que proporcionam um ambiente ainda mais adequado a preservação das características desenvolvidas por determinado grupo humano.
Para identificar essas características, podemos observar mudanças tanto nas características químicas, como também físicas e macromorfológicas. Determinados elementos químicos, principalmente Ca e P, se sobressaem nas análises químicas. As terras pretas arqueológicas possuem esse aspecto, além de apresentarem também coloração mais escura em relação aos outros solos da região.
No caso dos sambaquis é possível observar restos de alimentos que eram consumidos pela população e que ainda hoje se encontram organizados em uma sucessão estratigráfica, onde encontram-se camadas de conchas intercaladas com camadas de material mais fino e de coloração escura (indicando a presença de matéria orgânica), esses sítios podem alcançar 70 metros de altura e 500 metros de comprimento (DeBlasis et. al. 2007).
Abrigos em cavernas, principalmente cavernas de calcário são ambientes com grande habilidade de preservação (Vasconcelos et. al.), podendo encontrar ossos animais, além de pinturas nas paredes.
Dessa forma, percebe-se a importância não só da pedologia, mas de outras áreas da geociências nos estudos arqueológicos, ajudando em interpretações sobre a evolução do sítio, como era o modo de vida desses grupos pré-históricos e como se dava a sua interação com a paisagem.
Texto escrito por Thaís N. Fioravanti
Edição: Diego F.T. Machado
Fotografia da Capa: Giovanni Dall’Orto – Kerameikos, sitio arqueológico em Atenas, Grécia
Foto da entrada: Serranópolis de Altair Barbosa
Projeto Geoarqueologia dos primeiros americanos: o sítio Lapa do Santo
Ximena S. Villagran
Financiamento: Alexander Von Humbodlt Stiftung
PI do projeto financiado pela FAPESP no qual se insere esta pesquisa: Prof. Dr. André Strauss
Sobre o projeto: A região da Lagoa Santa, no estado brasileiro de Minas Gerais, é conhecida mundialmente por conter uma das mais antigas e abundantes coleções de restos humanos da América do Sul. Sepultamentos humanos aparecem em várias cavernas e abrigos rochosos cujos processos de formação recentemente começaram a ser estudados do ponto de vista geoarqueológico. Uma das principais questões para compreender o comportamento humano nestes locais é determinar a extensão da deposição geogénica versus antropogénica. A fonte geogénica poderia derivar de processos naturais de sedimentação de sistemas kársticos, enquanto a fonte antropogênica poderia ser cinzas produzidas por fogueiras humanas em locais onde a ocupação se estendeu alguns milhares de anos. Para resolver esta questão, serão efectuadas análises micromorfológicas e espectroscópicas por infravermelhos (FTIR) em amostras de sedimentos indeformados e soltos, respectivamente, recolhidas no sítio arqueológico da Lapa do Santo, onde a ocupação humana começou no Holocénico inicial. O local é conhecido por conter as mais antigas evidências de manifestações artísticas e rituais funerários das Américas. As análises geoarqueológicas caracterizarão os sedimentos pelo tipo e grau de influência dos diferentes agentes sedimentares e trarão informações complementares para discutir a intensidade e ritmo de ocupação dos locais durante o Holoceno. Os resultados poderão ser extrapolados para outros contextos arqueológicos da região.
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