Formigas do Cerrado

Formiga é o nome popular que damos as espécies e indivíduos pertencentes a família Formicidae. A família Formicidae, tem como autapomorfia (característica única do táxon), a presença da glândula metapleural, esta glândula está localizada no metatórax, e tem como função principal, a produção e a secreção de compostos antibióticos.

Formigas (Família Formicidae Latreille, 1809)

As formigas surgiram no mundo entre 160 a 139 milhões de anos atrás, mais provavelmente durante o período cretáceo, sendo este, o mesmo período de surgimento das primeiras plantas com flores (angiospermas). O cretáceo foi um período de grande diversificação de insetos e angiospermas. As formigas se tornaram ecologicamente predominantes na maioria dos ecossistemas a cerca de 55 milhões, sendo que deste o seu surgimento, as espécies de formigas mantiveram a mesma estrutura básica corporal, sendo muito parecidas com as mais antigas espécies fósseis descritas.

 

As formigas ocorrem em todo o mundo, exceto nos polos, e representam cerca de 50% da biomassa de insetos em ambientes naturais, e também correspondem a cerca de 2% de toda a biodiversidade de insetos no mundo. No mundo existe 13.000 espécies de formigas descritas, estas estão agrupadas em 300 gêneros de 16 subfamílias, sendo que 13 subfamílias, 113 gêneros e aproximadamente 1517 espécies ocorrem no Brasil, e cerca de 34% destas 1517 espécies são endêmicas do Brasil. Estimasse, que exista por volta de 27.000 espécies de formigas não descritas no mundo, e que aproximadamente 500 destas espécies não descritas ocorrem no Brasil. Já foram encontradas mais de 331 espécies de formigas em áreas de cerrado.

 

Frequentemente são descobertas e descritas novas espécie e gêneros de formigas, e por causa, os números de espécies descritas aumenta constantemente, e conseguintemente, novas propostas de mudanças na taxonomia e classificação da família Formicidae ocorrem de forma constante.

 

As formigas têm papel fundamental na aeração e drenagem do solo, sendo que na maioria dos ecossistemas, as formigas têm um papel maior na aeração e ciclagem de nutrientes do que as minhocas. Como consequência, as formigas melhoram a qualidade do solo, aumentando a fertilidade do solo e permitindo um ambiente mais favorável ao crescimento muitas plantas.

 

Em alguns ecossistemas as formigas são responsáveis pela remoção de até 90% dos cadáveres de pequenos animas, além de terem um papel fundamental na remoção de matéria vegetal morta, permitindo uma ciclagem mais dinâmica dos nutrientes no meio ambiente.

 

As formigas são consideradas engenheiros da natureza, já que muitos ninhos e estruturas construídas pelas formigas podem ser usadas ou transformadas para o uso de outros animais. Algumas espécies de insetos podem mimetizar algumas características das formigas, e usar este mimetismo para viver junto as formigas, podendo então usufruir da alimentação e proteção proporcionada pelas formigas.

 

Muitas sementes são dispersadas pelas formigas. Muitas plantas produzem sementes com apêndices chamados de elaiosomes. As formigas estão atrás dos nutrientes nos elaiosomes e levam as sementes para seus ninhos. As sementes não são comidas, apenas os apêndices, e as sementes, por sua vez, podem ou não ser retiradas do ninho pelas operárias como resíduos.

 

Existe diversas espécies de herbáceas e plantas rasteiras que usam as formigas para a polinização de suas flores. Algumas plantas usam nectários florais para atrair formigas para suas flores, e no processo parte do pólen da flor se prende a formiga, e esta pólen pode acabar sendo levado para as flores de outra planta da mesma espécie permitindo a fecundação de suas flores.

 

Diversas espécies de animais, como o tamanduá, tem as formigas como um de seus principais alimentos. As formigas podem se alimenta de diversas espécies de plantas, artrópodes e pequenos vertebrados. As formigas tem papel chave em quase todos os ecossistemas do mundo, além de exercerem papel chave na cadeia alimentar, elas também exercem controle biológico sobre diversas espécies de plantas e animais.  

 

Algumas plantas, como as embaúbas, podem viver em mutualismo com as formigas. Existi plantas que disponibilizam estruturas ocas em seus troncos e galhos para que as formigas possam usar como local de nidificação, também tem plantas que oferecem néctar em nectários extraflorais para a alimentação das formigas, e em troca as formigas protegem estas plantas de parasitas e predadores.

 

As formigas são ótimas indicadores de biodiversidade e qualidade ambiental. Quanto mais espécies de formigas ocorre em uma região, maior tende a ser a qualidade ambiental e biodiversidade desta região.

 

Referências:

BACCARO, Fabricio & Feitosa, Rodrigo & Fernández, Fernando & Fernandes, Itanna & Izzo, Thiago & Souza, Jorge & Solar, Ricardo. 2015. Guia para os gêneros de formigas do Brasil. 10.5281/zenodo.32912. Disponivel em:<  https://www.researchgate.net/publication/283791449_Guia_para_os_generos_de_formigas_do_Brasil>.  Acesso em: 22 de abril de 2021.

 

FEITOSA, Rodrigo dos Santos Machado. Revisão taxonômica e análise filogenética de Heteroponerinae (Hymenoptera, Formicidae). 2011. Tese (Doutorado em Entomologia) – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2011. Disponivel em:<https://teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59131/tde-17072012-114907/pt-br.php>.  Acesso em: 22 de abril de 2021.

 

VIEIRA, Alexsandro Santana. A glândula metapleural e suas secreções em formigas cultivadoras (Attini) e não cultivadoras de fungos (Myrmicini, Blepharidattini e Ectatommini) (Hymenoptera: Formicidae). 2012. 188 f. Tese – (doutorado) – Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências de Rio Claro, 2012. Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/100542>.  Acesso em: 22 de abril de 2021.

 

SILVESTRE, Rogerio. Estrutura de comunidades de formigas do cerrado. 2000. Tese (Doutorado em Entomologia) – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2000. Disponivel em:<https://teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59131/tde-23012002-104948/pt-br.php>. Acesso em: 22 de abril de 2021.

 

MELLO, R. A relevância da vida social das formigas na estruturação dos ecossistemas terrestres: ciência e literatura como proposta transdisciplinar de conscientização ecológica. 2014. Revista Terceiro Incluído, 4(1), 24–43. Disponível em: < https://www.revistas.ufg.br/teri/article/view/33942>. Acesso em: 30 de abril de 2021.

 

OLIVEIRA, Marco Antonio de et al. Bioindicadores ambientais: insetos como um instrumento desta avaliação. Rev. Ceres, Viçosa, v. 61, supl. p. 800-807, Dec.  2014.   Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-737X2014000700005&lng=en&nrm=iso>. Accesso em:  30 de maio de 2021. 

Gênero Azteca (Azteca Forel, 1878)

O gênero Azteca foi descrita em 1874 pelo filosofo, neurologista, e biólogo Auguste-Henri Forel. São muitas vezes, caracterizadas como espécies muito agressivas e de mordida muito dolorosa, além de terem um forte cheiro característico. As operarias das espécies do gênero Azteca tem a cabeça em formado de coração quando vista de frente, o desnodo (região central superior do mesosoma) é elevado em relação ao pronodo (região do mesosoma que está próxima a cabeça) quando visto lateralmente, e o gáster geralmente é dobrado sobre o pecíolo.

 

O gênero é distribuído por quase todo a região neotropical. O gênero provavelmente ocorre em todos os estados e biomas brasileiros. O gênero Azteca tem 84 espécies, e cerca de 2/3 destas espécies ocorrem no Brasil, sendo que por volta de 21 espécies ocorrem no cerrado brasileiro.

 

Todas as espécies são arborícolas e nidificam em árvores, principalmente em arvores do gênero Cecropia (Embaúbas), mas podem construir ninhos em outras espécies de árvores. Algumas espécies constroem ninhos a partir de fibras vegetais processadas de maneira semelhante a algumas espécies de vespas, estes ninhos podem ser feitos tanto dentro quando fora cavidades ocas disponibilizadas pela arvore em que vivem. Algumas árvores podem disponibilizar cavidades ocas em seus galhos e troncos para as formigas nidificarem e/ou disponibilizar néctar através de nectários extraflorais para a alimentação das formigas.

 

A maioria das espécies deste gênero, tem abito de alimentação generalistas, podendo ser alimenta através da predação de pequenos artrópodes, e em alguns caso podendo predar pequenos mamíferos. As formigas também podem estabelecer relações mutualísticas com algumas espécies de cochonilhas, e usar as secreções produzidas por elas para a sua alimentação, e também poder se alimentar do néctar disponibilizado por algumas espécies de arvores em que vivem.

 

As Formigas do gênero Azteca protegem as arvores em que vivem, atacando predadores e em alguns casos retirando plantas parasitas que podem prejudicar a arvore em que vivem. Estas arvores conseguem uma maior quantidade de nitrogênio, devidos as secreções nitrogenadas produzidos pelas formigas que caem no solo, e também pela decomposição dos cadáveres das formigas que liberam nitrogênio no solo próximos as raízes da árvore.

 

Existem algumas desvantagens nesta relação mutualística. As árvores tem que gastar energia para produzir alimento para as formigas, e também podem ser prejudicadas pelas cochonilhas que podem sugam a sua seiva, além de poderem ser danificadas por pica-paus que procuram as formigas para se alimentar. Mas os benefícios para ambos os lados, superam as desvantagens, principalmente para árvores e colônias mais novas.

 

Referências:

BACCARO, Fabricio & Feitosa, Rodrigo & Fernández, Fernando & Fernandes, Itanna & Izzo, Thiago & Souza, Jorge & Solar, Ricardo. 2015. Guia para os gêneros de formigas do Brasil. 10.5281/zenodo.32912. Disponivel em: < https://www.researchgate.net/publication/283791449_Guia_para_os_generos_de_formigas_do_Brasil>. Acesso em: 22 de abril de 2021.

 

BUENO, Paulo Agenor Alves. Contexto genético e geográfico da interação Cecropia-Azteca. 2013. Universidade Federal do Paraná. Setor de Ciências Biológicas. Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação Disponivel em:< https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/36060?show=full>. Acesso em: 01 de maio de 2021.

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