Mergus octosetaceus Vieillot, 1817

Nome(s) popular(es)

Pato Mergulhão, Merganso do Sul, Mergulhador, Patão, Pato Mergulhador.

História Natural

Ave aquática extremamente rara e arredia, é praticamente endêmica (exclusiva) ao Cerrado. Está extremamente associado a rios límpidos, com água limpa e cristalina, especialmente rios corredios de regiões serranas e de planaltos, com fundo de areia ou rochoso, não muito profundos e rodeados por mata ciliar preservada. Sua dependência bastante específica por esses ambientes o torna uma ave altamente sensível a alterações e degradações ambientais, e essa dependência está associada a seus hábitos de vida e alimentação, pois caça peixes ativamente enquanto mergulha, o que exige a visibilidade impecável e a abundância de presas que só os rios intactos e cristalinos podem oferecer. Carnívoro, se alimenta basicamente de peixes, especialmente o Lambari, mas pode ingerir caramujos, larvas e insetos aquáticos. Entre seus possíveis predadores, podem ser citados o Puma, a Jaguatirica, o Gato Maracajá, o Jaguarundi, o Lobo Guará, o Cachorro do Mato, a Irara, a Lontra, a Águia Cinzenta, a Águia Serrana e o Gavião Pato. Apesar de se assemelhar no comportamento e aparência com os mergulhões, como o Biguá, é na verdade um parente próximo dos patos (família Anatidae). Se reproduz entre maio e setembro, fazendo ninhos dentro de cavidades em árvores, rochas ou solo, próximas ao curso d’água que habita. Cobre o ninho com plumas e os ovos possuem cor clara. É monogâmico, e durante a reprodução se torna bastante territorialista, utilizando e defendendo um trecho específico do rio.

Descrição

Mede entre 50 e 56 cm. Possui bico fino e comprido, penacho longo na nuca, pescoço e cabeça esguios. O bico é preto, e a cabeça e porção superior do pescoço são de um preto brilhoso com tons verdes, mais fortes no macho. O peito e a barriga são cinza claro, com o dorso sendo cinza mais escuro. Há uma grande mancha branca na asa, que pode estar escondida. As patas são vermelhas.

Distribuição

Sua ocorrência é extremamente restrita, atualmente estando presente apenas em algumas localidades isoladas, principalmente no GO, TO, MG, além um registro recente em SP. Talvez ainda exista na BA, PA, e no leste do Paraguai. É uma espécie parcialmente endêmica (exclusiva) ao Brasil.

Conservação

Perigo crítico: é considerado criticamente ameaçado (ICMBio e IUCN). Apesar de registros históricos mostrarem que essa espécie é naturalmente rara, atualmente se encontra com populações extremamente reduzidas e em declínio. Estima-se que restam apenas cerca de 250 indivíduos maduros, sendo uma das aves mais ameaçadas das Américas e dentre as aves aquáticas mais ameaçadas do mundo. Suas escassas populações se encontram isoladas em refúgios bem preservados de Cerrado, especificamente em três Unidades de Conservação: o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, Parque Nacional da Serra da Canastra e o Parque Estadual do Jalapão. As principais pressões e ameaças para a espécie são a construção de hidroelétricas, a poluição e o assoreamento dos rios, a destruição e degradação do habitat, especialmente as matas ciliares, o turismo desordenado, o uso excessivo de agrotóxicos e a mineração.

Referências

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