VAZANTEIROS

“Nós Vazanteiros, somos um povo que vive com o rio São Francisco, em suas barrancas e ilhas em permanente mobilidade, manejando os lameiros fertilizados que o rio devolve, tirando o sustento da pesca, do extrativismo e da criação de animais. Nosso nome vem da agricultura associada aos ciclos de cheia, vazante e seca do rio São Francisco. Nós somos como o rio, sofremos com ele quando suas nascentes secam, o nosso reconhecimento é o reconhecimento do rio, o São Francisco não pode ser revitalizado sem nós, o povo Vazanteiro. A história conta, é nosso dever, nosso direito”.

Museu Vivo dos Povos Tradicionais de Minas Gerais: Vazanteiros

As comunidades vazanteiras constroem sua identidade a partir da relação com as águas e seus ciclos. São residentes das margens e ilhas do Rio São Francisco que cotidianamente interagem com as condições e mudanças desse e dos rios do entorno.

São conhecedores de seu ambiente, das áreas de vazante, que constituem espaços muito férteis, das terras mais altas, dos tipos e técnicas de cultivo, extrativismo, pesca, criação de animais, construção e, principalmente, do clima. Formam comunidades onde a cultura é transmitida pela oralidade e observação.

 

O nome vazanteiro provém do costume de usar os terrenos de vazante nas margens do rio São Francisco para praticar a agricultura de subsistência. Atualmente, os vazanteiros estão em conflito mais intenso com os órgãos responsáveis pelas áreas de proteção ambiental, como os Parques Estaduais. Essas áreas têm modificado a relação das comunidades com o ambiente no qual estão inseridos.

 

 

As comunidades vazanteiras combinam atividades de agricultura, pesca, criação animal e extrativismo e se distribuem por território segundo os ciclos naturais das águas, procurando manter acesso a regiões fertilizadas por matéria orgânica em margens e ilhas. São chamados de “povos das terras e águas crescentes” porque estão sempre acompanhando o rio, de modo a mudar suas casas e áreas de plantio de acordo com os períodos de cheias e baixas do São Francisco.

 

Para os vazanteiros, o São Francisco é mais do que suas correntezas que passam: chega a ser algo vivo. Até possui sua entidade protetora, o “cumpadre” do rio (como é chamado), descrito como um homem negro de chapéu que mora dentro do São Francisco e comanda suas águas, decidindo quem delas recebe peixes e cuidados. As crianças tremem de medo tão logo ouvem falar do “cumpadre”, mas os adultos já se acostumaram com ele. “Quando a gente era criança e ficava fazendo muita farra no rio, minha vó falava: ‘Ei, pode parar. O rio tem dono!’”, lembra Dinda. “E tem umas coisas: você não entra de sandália dentro do rio. Tem que pedir licença para entrar. Se estiver fumando, você tira um pouquinho do fumo e joga no rio, para dar para o ‘cumpadre’. É uma ciência que a gente acostumou a ter, de respeito com o rio”.

 

Somos um povo que vive nas terras crescentes, nas ilhas, barrancos, vazantes, nossa vida esta associada a vida do rio, quando é cheia o rio-mar enche as lagoas criadeiras de peixes trazendo renovação, fertilizando nossas terras. No tempo da calmaria cultivamos nossos alimentos nas vazantes, retiramos do cerrado os remédios, as frutas, pescamos e transportamos nossos produtos, milho, abóbora, feijão, melancia, mandioca, maxixe, tomate.

 

Fonte: http://apublica.org/2015/09/nem-agua-nem-terra/

Auto demarcação de Pau Preto

Sinopse: Em julho de 2011, 105 famílias de três comunidades vazanteiras do rio São Francisco no Norte de Minas retomaram a ex-sede da Fazenda Catelda e deram início à autodemarcação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Pau Preto, dando continuidade a um processo que vinha sendo negligenciado pelo Estado desde 2006. Foi o início para dar corpo a um sonho comum, de viverem em seus territórios tradicionais com liberdade. Toda essa movimentação foi documentada por uma equipe de cineastas e fotógrafos da Escola Popular de Comunicação Crítica (Observatório de Favelas) e da Agência Imagens do Povos.

 

Ficha técnica:

Direção: Luciano Dayrell
Som Direto: Thiago Sobral
Câmera e Montagem: Luciano Dayrell
Trilha Sonora: Daniel Lovisi
Fotografia Still: Giu Alface

 

Auto demarcação de Pau Preto| Beiras D’Água (beirasdagua.org.br)

 

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