Parteiras do Cerrado

As parteiras populares são detentoras de um saber sobre o corpo, a saúde da mulher e o parto que não foi adquirido em livros. Algumas não aprenderam a ler e nem a escrever, transmitem seu conhecimento oralmente de uma mulher para outra, sejam elas parentes ou conhecidas da comunidade. Não frequentaram escolas especializadas para a aquisição destes conhecimentos, aprenderam por meio da observação despretensiosa, tendo como inspiradoras outras parteiras populares “assistindo” as parturientes. Dominam o conhecimento das plantas nativas do cerrado ou cultivadas em seus quintais e saberes sobre o corpo e seu desenvolvimento.
Em 1990 foi criado o Programa Nacional de Parteiras pelo Ministério da Saúde, almejando o cadastramento, a capacitação e o pagamento das parteiras através do Sistema Único de Saúde (SUS), para isto foi criada também uma tabela de preços constando a remuneração pelos partos domiciliares … no entanto, essa política não se efetiva no sentido de reconhecer esse saber/fazer e desnivelar as parteiras tradicionais com relação aos médicos.
Apesar da desvalorização do ofício das parteiras populares pelo sistema formal de saúde, as parteiras ainda estão atuantes. Nas comunidades que residem em locais de difícil acesso aos serviços de saúde, nas comunidades ribeirinhas, quilombolas e de povos indígenas, elas são elementos fundamentais para a assistência à saúde da mulher e da criança.
Fonte: CARDOSO, Ítala Lopes. O saber/ fazer das parteiras populares do entorno do Distrito Federal. 56 f. Monografia (Bacharelado em Saúde Coletiva)—Universidade de Brasília, Brasília, 2012.

Comunidade Ema Kalunga
Ema Kalunga

A comunidade Kalunga Ema tem esse nome porque havia muitas emas no local onde a comunidade se estabeleceu. Está localizada no território do Quilombo Kalunga do Município de Teresina de Goiás, próxima à GO-118, centralizada entre as cidades de Monte Alegre e Teresina de Goiás, que fazem parte da Chapada dos Veadeiros.
Para as parteiras quilombolas, o parto é um momento de extrema intimidade, não permitindo participação de outras pessoas a não ser das ajudantes. Todos os procedimentos são vistos como uma espécie de ritual sagrado, onde se devem evitar corrente de ar frio e alguns alimentos considerados perigosos. Essas práticas envolvem orações constantes, benzimentos, banhos e até chás para ajudar na contração e apressar o parto. As crianças recém-nascidas, muitas vezes, recebem cuidados especiais, como cordão benzido contra mau olhado, quebranto e outros.
Conforme Santos (2015, p.2), as parteiras aprenderam os partos na prática, a necessidade as obrigou a aprender essa profissão, pois não existia médico por perto, e o escravo já tinha o seu saber. Era longe de tudo, e algumas aprenderam assim, e foi passando de mãe para filha e, cada vez mais, foram aperfeiçoando seu modo de fazer o parto. Nessas atividades, nada era cobrado. A parteira ia por se sentir útil em ajudar uma criança a vir ao mundo. Nessas práticas, elas recorriam às suas crenças e aos remédios caseiros. Quando eram chamadas, não se importavam com a distância e nem com a hora, prontamente, dirigiam-se rumo ao dever que tinha escolhido para si. Levavam consigo todos os remédios que iria fazer uso na hora e depois do parto. Para essas mulheres, é gratificante salvar vidas. As suas práticas estão dentro de seus cérebros, em sua memória, pois elas não tiveram a oportunidade de se alfabetizar.
“Eu tive 7 filhos e todos de parto normal, com parteira Mariana. E tive minha primeira filha aos 12 anos de idade. Logo tive aquele sonho de saber como era o trabalho das parteiras e quis aprender. A inteligência Deus deu na ideia sonho de ser parteira, e aprendi com a minha vó a véia França, depois que tive minha primeira menina, e nos partos dos filhos que tive ainda. Sinto que já não tem mais parto por aqui, vão para os hospitais da região” … Não faço mais parto porque minha companheira faltou (faleceu), fiquei sozinha. Mais se caso precisar, eu vou nas reuniões e nos partos se eu arrumar alguma companheira. Mas as mulheres está indo tudo para o hospital, pois ninguém está pegando menino mais aqui. A gente fica assim meio fraco de manter. Recebi um pouco de ajuda apenas uma vez do governo, das mulheres que fiz os partos só agradecimentos e outras nem isso e muitos dos meninos nem dá ligança (não se importam). Desejo muito continuar, mas estou muito fraca, acho que não dou mais conta, mas se precisar de mim eu vou … Já atendi um bocado, quase umas 80 mulheres, se pagava ou não eu sempre ia ajudar. Já tratei de depressão, pneumonia, febre, maleta, cólicas com uso de chás de (pereira tatu, fedegoso). É importante alguns cuidados para tratar as mulheres no parto ou doentes. Precisa lavar as mãos, passar o azeite e dar o toque. Os banhos (cipó maninho, mentração, casca de pequi) depois que ganhava dava o banho com casca de caju, manjericão, mama de porca, carrapicho e metraço. Para esquentar a dor era carrapicho barra de saia, queimava na pinga para esquentar a pra tirar a friagem, esquentava leite de gengilin descascava o inhame e lavava ele e dava a golda pra beber. Fervia o ovo e o pintinho dele um pouquinho e colocava canela e cravo para dar força na mulher, falta vomitar, mas tinha que tomar … Tinha simpatia também, mais eu mesmo não fiz nenhuma, pois eu não sabia. Fazia os banhos usando as plantas medicinais (favaca), tirava o colchão ficava só nas varas e as painhas, igual Nossa Senhora com menino Jesus, que nasceu em Belém nas painhas do chão, coloca um plástico e dois travesseiros para ela recostar outra vez recostava na gente. A placenta, no outro dia agente levava o sal e ia enterrar. Ainda tinha a ciência: abria o buraco redondinho, a placenta é igual uma arraia, enterrava com o umbigo para cima, pois se ficasse para baixo a mãe morria ou então o filho … Eu uso tudo que for necessário e que aprendi, se precisar benzer eu benzo, se precisar de banhos e chás eu faço, e procuro manter a casa limpa, dá uma olhada nas roupas e panos que a grávida vai usar no parto e depois do parto. O pai dentro do quarto não ajudava em nada, só ajudava se chamasse mesmo. Ajudava mesmo quando precisasse buscar algum remédio ou fazer alguma comida, às vezes ele mesmo que tinha que dar o tombo na cozinha para fazer a comida da mulher. O parto é coisa de mulher, homem não participa … Não pode pegar peso, não pode soprar fogo, não pode gritar, não pode varrer, também tinha que colocar algodão no ouvido e usar saia e blusa comprida para não pegar friagem, tinha que tomar água quente da noite para não crescer a barriga, e é recomendado só lavar a cabeça depois de um mês, e quando for lavar, tinha que cozinhar remédio (quina, mentraço, catinga de barrão, favaca, manjericão, negramina), oi de caju e oi de goiaba branca … O que me agrada é que sempre deu tudo certo, não tive nada para embaraçar, mesmo eu não sabendo ler deu tudo certo. Era felicidade para mim e para as mulheres que me ensinou, tudo certo. A dificuldade é a falta de dinheiro que não dava para ser alimentada direito, e a falta de transporte, de noite mesmo saímos, muitas vezes, quebrando a unha. Os meninos que eu peguei dava tudo certo, nenhum tava atravessado, mas eu já tive menino pelos pés e pela escadeira (pela bundinha encuidinha). Só eu que sofri quando tive neném, ganhei dez horas fui dar acordo (fui acordar) às cinco horas, passei ruim, por um tiquim eu tinha morrido (DONA I. F. S.).
COSTA, Cristiane do Nascimento Borges da. O conhecimento tradicional das parteiras: um estudo na comunidade Kalunga Ema, Teresina – GO. 2015. 43 f., il. Monografia (Licenciatura em Educação do Campo)—Universidade de Brasília, Planaltina-DF, 2015.

Comunidade Ribeirão dos Bois, Kalunga
Quem são as parteiras da comunidade Ribeirão dos Bois?

Ribeirão dos Bois é uma comunidade quilombola, localizada no Nordeste goiano a 50 km do município Teresina, GO. Hoje a comunidade é constituída por cerca de cento e vinte famílias, as quais são compostas por Kalungas que residem ali desde o processo de resistência à escravidão.Para as parteiras quilombolas, o parto é um momento de extrema intimidade, não permitindo participação de outras pessoas a não ser das ajudantes. Todos os procedimentos são vistos como uma espécie de ritual sagrado, onde se devem evitar corrente de ar frio e alguns alimentos considerados perigosos. Essas práticas envolvem orações constantes, benzimentos, banhos e até chás para ajudar na contração e apressar o parto. As crianças recém-nascidas, muitas vezes, recebem cuidados especiais, como cordão benzido contra mau olhado, quebranto e outros.
Conforme Santos (2015, p.2), as parteiras aprenderam os partos na prática, a necessidade as obrigou a aprender essa profissão, pois não existia médico por perto, e o escravo já tinha o seu saber. Era longe de tudo, e algumas aprenderam assim, e foi passando de mãe para filha e, cada vez mais, foram aperfeiçoando seu modo de fazer o parto. Nessas atividades, nada era cobrado. A parteira ia por se sentir útil em ajudar uma criança a vir ao mundo. Nessas práticas, elas recorriam às suas crenças e aos remédios caseiros. Quando eram chamadas, não se importavam com a distância e nem com a hora, prontamente, dirigiam-se rumo ao dever que tinha escolhido para si. Levavam consigo todos os remédios que iria fazer uso na hora e depois do parto. Para essas mulheres, é gratificante salvar vidas. As suas práticas estão dentro de seus cérebros, em sua memória, pois elas não tiveram a oportunidade de se alfabetizar.
“Eu tive 7 filhos e todos de parto normal, com parteira Mariana. E tive minha primeira filha aos 12 anos de idade. Logo tive aquele sonho de saber como era o trabalho das parteiras e quis aprender. A inteligência Deus deu na ideia sonho de ser parteira, e aprendi com a minha vó a véia França, depois que tive minha primeira menina, e nos partos dos filhos que tive ainda. Sinto que já não tem mais parto por aqui, vão para os hospitais da região” … Não faço mais parto porque minha companheira faltou (faleceu), fiquei sozinha. Mais se caso precisar, eu vou nas reuniões e nos partos se eu arrumar alguma companheira. Mas as mulheres está indo tudo para o hospital, pois ninguém está pegando menino mais aqui. A gente fica assim meio fraco de manter. Recebi um pouco de ajuda apenas uma vez do governo, das mulheres que fiz os partos só agradecimentos e outras nem isso e muitos dos meninos nem dá ligança (não se importam). Desejo muito continuar, mas estou muito fraca, acho que não dou mais conta, mas se precisar de mim eu vou … Já atendi um bocado, quase umas 80 mulheres, se pagava ou não eu sempre ia ajudar. Já tratei de depressão, pneumonia, febre, maleta, cólicas com uso de chás de (pereira tatu, fedegoso). É importante alguns cuidados para tratar as mulheres no parto ou doentes. Precisa lavar as mãos, passar o azeite e dar o toque. Os banhos (cipó maninho, mentração, casca de pequi) depois que ganhava dava o banho com casca de caju, manjericão, mama de porca, carrapicho e metraço. Para esquentar a dor era carrapicho barra de saia, queimava na pinga para esquentar a pra tirar a friagem, esquentava leite de gengilin descascava o inhame e lavava ele e dava a golda pra beber. Fervia o ovo e o pintinho dele um pouquinho e colocava canela e cravo para dar força na mulher, falta vomitar, mas tinha que tomar … Tinha simpatia também, mais eu mesmo não fiz nenhuma, pois eu não sabia. Fazia os banhos usando as plantas medicinais (favaca), tirava o colchão ficava só nas varas e as painhas, igual Nossa Senhora com menino Jesus, que nasceu em Belém nas painhas do chão, coloca um plástico e dois travesseiros para ela recostar outra vez recostava na gente. A placenta, no outro dia agente levava o sal e ia enterrar. Ainda tinha a ciência: abria o buraco redondinho, a placenta é igual uma arraia, enterrava com o umbigo para cima, pois se ficasse para baixo a mãe morria ou então o filho … Eu uso tudo que for necessário e que aprendi, se precisar benzer eu benzo, se precisar de banhos e chás eu faço, e procuro manter a casa limpa, dá uma olhada nas roupas e panos que a grávida vai usar no parto e depois do parto. O pai dentro do quarto não ajudava em nada, só ajudava se chamasse mesmo. Ajudava mesmo quando precisasse buscar algum remédio ou fazer alguma comida, às vezes ele mesmo que tinha que dar o tombo na cozinha para fazer a comida da mulher. O parto é coisa de mulher, homem não participa … Não pode pegar peso, não pode soprar fogo, não pode gritar, não pode varrer, também tinha que colocar algodão no ouvido e usar saia e blusa comprida para não pegar friagem, tinha que tomar água quente da noite para não crescer a barriga, e é recomendado só lavar a cabeça depois de um mês, e quando for lavar, tinha que cozinhar remédio (quina, mentraço, catinga de barrão, favaca, manjericão, negramina), oi de caju e oi de goiaba branca … O que me agrada é que sempre deu tudo certo, não tive nada para embaraçar, mesmo eu não sabendo ler deu tudo certo. Era felicidade para mim e para as mulheres que me ensinou, tudo certo. A dificuldade é a falta de dinheiro que não dava para ser alimentada direito, e a falta de transporte, de noite mesmo saímos, muitas vezes, quebrando a unha. Os meninos que eu peguei dava tudo certo, nenhum tava atravessado, mas eu já tive menino pelos pés e pela escadeira (pela bundinha encuidinha). Só eu que sofri quando tive neném, ganhei dez horas fui dar acordo (fui acordar) às cinco horas, passei ruim, por um tiquim eu tinha morrido (DONA I. F. S.).

Fonte: SANTOS, Suziana De Aquino. Os saberes e fazeres das parteiras na comunidade Kalunga, Ribeirão dos Bois, Teresina –GO. 2015. 43 f., il. Monografia (Licenciatura em Educação do Campo)—Universidade de Brasília, Planaltina-DF, 2015.

Dona Delfina Dos Santos

Dona Delfina do Santos relata que nasceu no Vão das Almas, Município de Cavalcante, na beira de um córrego chamado Córrego da Serra, na área rural. Relata que é casada mais não no civil e sim no padre.
Com relação ao número de filhos ela diz: “Se tivesse ai tudo era treze filhos, mais Deus não quis, então eu tenho dez filhos vivos, cinco homens e cinco mulheres”.
“Na minha época não tinha escola aqui, meu povo não tinha condição de mi coloca pra fora pra mim estuda, o estudo era o cabo da inxada. Já trabaiei muito na roça e junto com meu marido ele era vaquero em fazenda”.
Todas as vezes que me chamava eu ia nunca neguei favor a ninguém, fico emprazerada (diz ela) porque deu tudo certo, o despacho ocorreu bem (quer dizer que o parto correu tudo bem). Eu já fiz 64 partos junto com minha mãe, para todos uso banho de sabonete virgem, com a folha da laranja e depois do parto usa os banhos de aperto (quer dizer banho vaginal), casca do caju, casca do jatobá, barbatimão e entre, outros. Quando a mulher ganha menino a placenta não sai, a gente pega o gergelim, leva no pilão, soca, tira o leite e leva pro fogo pra morna e da pra mulher beber, pra sai o resto do parto.
“Acho importante para mim né e para quem tá grávida é uma forma de ajudar quem precisa, porque é um jeito que tenho de ajuda quem precisa. Nunca perdi nenhum menino no parto, sim mas não posso te dizer neste momento, mas vou te contar um acontecido comigo. Foi dona Cinézia, minha comadre que fez meu ultimo parto, nessa parição eu fiquei três dias ameaçada com dor, quando comadre chegou e tomou a frente e fez os benzimentos foi logo o menino pontou a cabeça pra nascer. Depois que o menino nasceu ela falou que eu não ia ter mais menino porque apinha (ovário ou aparelho reprodutor) já tinha secado, hoje meu filho caçulo tem 28 anos, ele chama ela de mãe Cinézia porque ela que pegou ele no parto quando eu tava parindo. Todos os meninos que nos pegamos chama nós de mãe porque nós é a mãe de pegação. Antes do parto rezamos pra dar tudo certo, depois para agradecer, como a Oração de Nossa Senhora do Bom Parto”.
“Virgem Santíssima, virgem antes do parto virgem no parto, virgem depois do parto, que foi a obra do Espirito Santo que gerou em vosso ventre imaculado o esplendor do mundo adorado vosso precioso filho infinita foi a vossa alegria que 35 conduziam vossos braços esse penhor eterno de adoração. Esse trono que tanto voz glorificou como rainha dos anjos e por quem o deste ter a mais triste e comparável magoa sobre tudo quando viu crucificar o vosso adorado filho essa hora nunca mais, daí- me o bom sucesso, todo canto implora o vosso santo nome amém

Laurência Fernandes de Castro

“Nasci na comunidade Ribeirão dos Bois Município de Teresina Goiás, na era de 10/08/1935, nasci na roça, fui casada e agora sou viúva. Tenho sete fios (filhos) seis nasceu aqui só um que nasceu no município de Monta-Negue (Monte Alegre). Naquela época não tinha professor aqui, só na época dos meus meninos, sou analfabeta, trabaio (trabalho) na roça, sou partera (parteira). Durante minha vida trabaiei (trabalhei) na roça no cabo da enxada”.
“O que me levou ser partera foi por causa de minha mãe Joana, quando minha mãe ia pastejar (fazer parto), eu ia junto e ela foi mi ensinando fazer parto. Comecei com vinte e dois anos e fiz o primeiro parto de um minino lindo. Já insinei minha fia Dora e nunca deixei de ir atender ninguém seja a hora qui for de madrugada, de baxo di chuva com quibano na cabeça (quibano é um artesanato que usa pra peneirar o arroz). Sinto feliz porque o parto foi bom e já peguei (76) setenta e seis mininos aqui nessa região”.
“Antes do parto eu faço o soro caseiro para esquenta e induzir a dor, depois, do parto outro soro para tirar a dor do coipo (corpo), manjericão, esponja, alho, algodão. Acho importante fazer parto, o primeiro que fiz foi muito emocionante e filiz, tô salvando uma vida. Nunca perdi nen um minino no parto Graças a Deus. Os parto qui fiz fui filiz e fiço com simpatia e benzimento, eu jafiço dois parto usando simpatia e benzimento, dipois eu tirei as criança igual um dotô(doutor), hoje essas crianças tão casados e filiz”.

Maria Pereira

“Nasci no Vão de Alma, e me criei aqui no Ribeirão 20/04/1941, só mãe de dez filhos eles nasceram aqui na comunidade, não tive oportunidade de estudar porque meus pais num deixava, com medo de perde a virgindade. Escola só tinha em Cavalcante eu tinha tanta vontade de estudar, ser uma doutora, mas não tive condições e oportunidades. Sou aposentada, trabalhei na roça, fiava e tecia cobertores de algodão, fazia o parto das mulheres da comunidade. Foi a necessidade num dia em que uma mulher estava comigo sozinha, sentiu a dor, fui obrigada fazer o parto dela, a partir daí comecei a ser enfermeira e nunca deixei de atender ninguém por falta de vontade seja a hora que for de dia e ou de noite. Sinto alegria sempre que realizo mais um parto. Fiz (66) sessenta e seis partos”.
“Tudo que faço, vem primeiro nossa senhora do parto, porque eu não aguento vê ninguém sofrendo por falta de ajuda, sinto feliz porque tô ajudando essas mães. Entonce agente pega um caju com barú pra fazê banho de aperto depois de três dia e pra sara aos poucos. Os partos que já fiz e ajudei graças a Deus fui feliz nunca perdi nenhuma criança. Durante o parto não faço nada só a Fé em Deus”.

Cinésia dos Santos Rosa

“Nasci no Vão de Alma na era de 23 de julho 1.922, fui casada no padre mas agora sou separada. Sou mãe de oito fios (filhos), cinco morreu e ficou três homens o mais véio nasceu no Vão de Alma e os outros nasceu aqui no Ribeirão. Não tive a oportunidade de estuda, tinha vontade de ir a escola, mais era muito difícil, então a escola era a roça. A profissão era parteira, o trabáio (trabalho) era na roça e ou fiava, tecia, cuidava de meninos meus e de outras pessoas. Foi através da minha avó que resolvi a ser parteira, pois toda a vez que ia fazer um parto eu ia junto para ela mi ensinar ai eu sabia que ia ter uma sabedoria”.
“Foi cum 20 anos que fiz o primeiro parto. Num ensinei ninguém porque a pessoa que eu queria ensinar não quis, porque ficou com medo. Nunca neguei de atender fora de hora nenhum chamado, pode cai chuva nas costas. Sinto orgulhosa quando faço um parto com sucesso e depois rezo pra Nossa Senhora do parto. Já fiz 114 partos, antes faço chá de cebola com pimenta do Reino com Noz – moscada pra induzir e aumentar a dor, depois do parto, folha de algodão com lagramina e nove dentes de alhos, soca junto, coloca um pingo de alcanfor e toma pra aliviar a cólica. Nunca perdi nenhuma criança no parto, toda a criança que peguei nasceu sadia. As vezes faço simpatia, tenho ela escrita, é só colocar ela encima da barriga pra dar força a mulher e desvirar o menino. Faço também o benzimento no momento que precisa, porque não pode fazer se não precisar”.
“As vezes faço simpatia, tenho ela escrita, é só colocar ela encima da barriga pra dar força a mulher, e desvirar o menino. Faço também o benzimento no momento que precisa, porque não pode fazer se não precisar”.

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